Querosene
“Lata d’água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria”... (Candeias Júnior) E foi mesmo por causa das antigas latas de querosene cheias d’água, na subida lenta e escaldante dos moradores sob o sol na lombada do gigante morro, que algumas décadas atrás nomeou-se a primeira favela da pequena cidade. O “Morro do Querosene” era lugar mítico, apelido carregado de uma aura sinistra e temerária à simples pronúncia. Amedrontava crianças, deixava as polícias em alerta, ameaçava a bolha moral, psicológica, religiosa e política nutrida por décadas de tradição de uma cidade pequena nesses rincões onde supostamente sequer deveria haver favela. Segundo os jornais e à boca miúda, era de lá que vinham todos os bandidos pra botar medo na população da vila, na calada da noite. Mas contraditório como a própria vida, (e isso já observava eu mesmo, no olhar de menino) também era de lá que saíam aqueles garotos criativos que eram os mel