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o mapa do destino

Eu não sabia onde encontrar a vida ninguém me disse nada e eu nunca tive nenhum mapa Se aprendi algo, foi sozinho correndo feito louco jogando muito alto sem tostão para pagar Eu não sabia onde encontrar a vida eu não tinha nenhum mapa e nem pude ensaiar praquando a hora chegar Tudo que sei e eu sei muito pouco tive que arrancar à força eu tive que sangrar pra ver Não tenho medo da morte tenho só de nunca ter vivido Eu não sei onde encontrar a vida eu não tenho nenhum mapa nem pude ensaiar praquando a hora chegar Me criei nessas areias finas no martelo dos tempos e da destruição deste instante alimento meu futuro... Sou um exterminador implacável das minhas próprias possibilidades

Rimbaud

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Por que se escreve?  Para quem se escreve? Sobre o que se escreve ? Escrever é nada mais do que mirar-se em espelhos. O impulso de pegar uma caneta, um lápis, um teclado ou um giz e sair rabiscando raivas, desejos, frustrações, impressões, histórias inventadas ou acontecidas,  pode surgir pelos mais variados motivos.  Talvez por uma necessidade primordial e inconsciente de tentar ser lembrado, aquela noção de não passar pela vida incógnito, ou quem sabe, de poder perpetuar-se no tempo através das idéias?? A busca, ainda que vã, em legar alguma coisa não perecível, algo além de si próprio? Ou  até o simples preenchimento do tempo ocioso com este passatempo lúdico, de forma despretensiosa.  Se escrever também envolve criação e arte, busca-se eventualmente um "algo a mais" , aquilo que possa transcender o próprio escritor, aquela busca ancestral de deixar  para a futura humanidade outra lembrança que não sejam filhos ou árvores. Escreve-se também por de

A Maçã

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Fosse pela sensação de percorrer estas brancas curvas vagarosamente sem juízo Morder sem muita força a maçã que brilha no escuro deste quarto aceso e ver você se contorcendo em formas e sons incandescentes Fosse pela paz e o desespero que habitam juntos este mesmo peito e a ansiedade  quando em minhas mãos tomo seus cabelos beijo teus seios e o seu perfume me invade e me leva a tantos lugares que até perdi a conta Por muito menos rogaria a Deus que levasse mais de mim do que apenas uma costela persistindo o sexto dia, então como o mais sublime de toda a criação Fosse pela sorte de poder vê-la ao meu lado quando acordo e chegar ao fim do dia sabendo que estará à minha espera Fosse pelas diferenças de opinião diferentes visões de mundo que não se igualam, mas se entendem, amadurecem e sobretudo se desarmam porque sabem transigir abrindo mão do que é desimportante para que algo maior possa fluir Eis que a vida não é sempre flores mas é tam

Sobre meninos e facas

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Para Ziraldo, e os milhões de "meninos maluquinhos" que ainda habitam este planeta.. Também uma lembrança do "Livro perigoso para garotos"..., livro de passagem, algo de original e raro que alimenta, através de pipas, piões, carros de rolimã, bolas de gude e rojões, a memória da  alma de nossa eterna infância de meninos... ...Desde pequeno adorava facas, em suas mais variadas formas: as facas "facas", propriamente ditas, incluindo as mais comuns, de mesa: aço inox sem ponta e geralmente sem corte_ as únicas autorizadas pela mãe, para seu desespero; Amava também as facas de ponta de ferro; maiores, mais afiadas, triangulares e de cabo de madeira, roubadas escondidas da gaveta da cozinha e malocadas dentro da bermuda, perto da barriga, disparando numa perigosa fuga em velocidade, quintal afora, para contemplar, isolado e sossegado, o objeto sagrado do pequeno ato furtivo. Tinha também os enormes facões de mato, desbravadores, cujo acesso era raro,

SAFARI

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"Tigre, tigre que flamejas Nas florestas da noite. Que mão que olho imortal Se atreveu a plasmar tua terrível simetria?" (William Blake) Terra  elemento ser a composição de nossos braços a morada do último pó nesta odisséia pelo espaço Irmãos de sangue forjados na luta na árdua sina que se expõe ao inverso: quanto mais dura a lida,  maior o amor de mãe e o sentido do universo Trovão na lua minguante conversas de fogo que pressente matança pedras  cortantes afiam nativos, ritos e alianças Libações,  pacto entre  astros e  matéria perecível o medo é desconhecido destes passos que não vêem na fuga saída possível Entre  gritos,  tambores e cajados África de maracas, djembes e lanças atiram-se ao negro Érebo os bravos Maasais e Morans  convidam para a dança O grande rio, afastado à  minguada chuva sobre os espaços transitórios do solo firme a estação e suas crias à lamúria a terra escolhe          

O perfume de Laura

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(texto em livre adaptação do livro"O Perfume", História de um Assassino, de Patrick Süskind) Ao nascer, o que se vê, o que se ouve primeiro?  Grenouille e o pesadelo de qualquer homem no mundo inteiro.  Se a memória tivesse voz, aos berros diria que nada se vê e nada se ouve naqueles segundos, e é mesmo pelo cheiro que nos toca o primeiro sentido do mundo , não importando ter nascido entre finas rendas ou em na lama. Primeira consciência: acordes e blends, antes de enxergar. O cheiro da mãe, do berço, dos primeiros rústicos brinquedos: leite, a fragrância da vida, alimento. Amêndoa, cedro, limão, jasmim: Respiração: pulmões se abrindo, o sofrido choro. Patchouly, vetyver, sândalo, alecrim. Antes de pensar, antes de andar. Bergamota, gerânios, musgo de carvalho. Antes de ouvir. Almíscar, incenso, thymo, tomilho. Antes mesmo de chorar, e muito antes de falar. Sálvia, âmbar , gengibre, cardamomo. Café, couro velho, tabaco, cipreste: para cada corpo, um resultado dife

CONTEMPORÂNEOS OU MEDIEVAIS?

Tristeza esse retorno ao fundamentalismo, em todos os gêneros: religioso, político-ideológico, e até científico. Uma lástima observar esse retorno à idade das trevas, o radicalismo e a polarização imperando em todas as suas formas, quando deveríamos estar aproveitando os novos meios de expansão da mente, propiciados pela facilidade do acesso à informação emtodos os níveis. Aproveitando a elasticidade antes nunca vista nos meios de comunicação em rede, que propiciam um contato maior entre as pessoas, uma maior aproximação e conhecimento das diferenças, além de um debate mais universal de todos os temas, algo que deveria ser enriquecedor por natureza. Por outro lado, bem ou mal, deveríamos, sem achar que as conquistas pararam e que a estagnação tome conta, comemorar a consolidação de um Estado de Direito, imperfeito e ainda longe do ideal, mas construído e mantido com tanto sacrifício por todos os agentes políticos durante décadas, em particular num país como o Brasil, que viveu tanto

A Tempestade

Renascendo depois de um seco e tenebroso inverno, eu vi sua chegada verde, anunciada, úmida, por entre chuvas temporais, calores estivais flutuando cheiros. Eu e as árvores olhando nuvens na esperança da sua volta. Os arautos de vento que dançam janelas, entrevistam portas e recomendam gotas, estes sabem as notícias antes que o mundo as faça. A chuva tem sua escola de espreitar o momento certo. Contempla-se, de uma janela, esse liquefazer de todos os seres vivos,  como se através do olho mágico de uma porta secreta, eu pudesse contemplar o próprio mundo em espiral infinita, movendo-se no ritmo da torrente seguida, enquanto uma  leva de seres felizes por poder navegá-la sem paradas, sem atropelos, simplesmente flui. Sob a ponte de madeira grossa mas incompleta em sua latitude, ruge o rio vermelho, esse temeroso som desbarrancador (familiar a quem habita suas margens), curvando violento  poucos metros à frente. Jangadas bananeiras, sem passageiros no convés, com cabeças mil folhas,

Dante

Sei nem se era sonho, não sei se era real nem tudo é claro nesse mundo enquanto se fazem os caminhos e o andarilho segue sozinho seus passos vacilantes Ninguém questiona a razão durante o dia por costume ou  por amor ao excesso mas no  cair da noite fria ao lembrar dos meus tropeços é justamente quando eu mais tropeço Meus pés sobre pegadas incertas e eu ainda nem ao menos sabia se vivo, eu tocava os mortos ou, se morto, falava aos que viviam No escuro, eu chamava os anjos (mas o eco da minha própria voz sumia) ouvia gritos, ouvia cantos mas no entanto nem uma pálida alma se oferecia Enquanto isso, atravessava como se voasse dos lados, apenas  asas navegando o vento (a corda longa esticada sobre o abismo) e ao fundo, um imenso pântano gemidos roucos e lamentos Notícias sobre uma distante aurora humano algum remotamente daria decrépitas criaturas esperando a hora uma vida inteira por apenas mais um dia Girando e afundando-se quando se abriu o chão  cientes
VISCERAL Quando a mente se trai em meio a tantos artifícios tantas elucubrações cerebrais, apenas defesas construídas durante longos anos sobre castelos de gelo e o corpo percebe sua deixa, espreitando-se por entre as frestas de luz esgueirando-se e serpenteando, corpo que é, para assumir a sua vez no mundo governar a sua própria natureza chutando para o lado qualquer resquício de pessimismo porque o corpo é a afirmação corpo é a luta da natureza, dos instintos contra o corte gelado da racionalidade contra a morte na noite do deserto http://centauromaquias.blogspot.com.br/ http://centauromaquias.blogspot.com.b r/ http://centauromaquias.blogspot.com.br/ http://centauromaquias.blogspot.com.br/

A Estação

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Bora, então, amanhã às sete. Tem que ser bem cedo, senão o sol queima demais. Proveitar que é sábado e não tem aula. Todos de bicicleta. Além de mim, Kuru, Romário, Harilson, Marcos e quem mais quiser. Tudo equipado, cordas, canivetes, lanternas, lanche de emergência e água, é claro. Noite dormida aos sustos, café queimando na garganta da manhã, pão mal mastigado e a poeira da estrada!!... Somos nós outra vez. Trilhos de antigos trens, desaparecidos assim, sem motivo, e no rastro bom de suas britas com ferros inteiros navegamos nós, sete vezes duas rodas, na poeira da vida. Parada em sítio de Wesley para comprar (mais ou menos) curiosos cocos amarelos nos coqueiros de beira de estrada. Valeu Wesley, qualquer dia pagamos. E a água do coqueiro virada suco para barrigas sedentas na estrada. Riacho e cachoeiras de beira, lavradores no trato da terra e do mato, respirada rica desse mato matinal verdinho, verdinho, bem cedo num sábado glorioso. Insetos atarefados corretos em sua lida obs

A segunda bomba

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Fat man flying over the tops, august, nine on nineteen forty-five Suddenly deadly mushroom digging your roots above the frightened sky A bad memory of Little boy, ugly boy blows up his huge head changing over the men in beasts While the rest of the world was sitting watching and listening to their blind priests Castigando outra vez o inimigo, de joelhos com uma espada sob o flanco Mais forte que o sol a bomba largada sobre uma ilha em prantos Essa criança que não nasceu da Luz espargindo seu canto maligno Pela alegada ordem moral do mundo civilização Ianque puxando o cortejo enquanto a fumaça se espalha em segundos Alma de choques e ondas o centro sem gritos sem tumulto e sem cheiro Alma de energia quântica atravessando ossos paredes e canteiros Segundos eternos e glaciais de um silêncio profundo quase budista Memórias de Pompéia e Herculano fumaça e terra derretida encobrindo toda a vista A sombra do Vesúvio derramando-se em lava fla

CANTO NOTURNO...

* Por Marcos Silva de Oliveira Mil vezes o poeta dentro da noite Corrói sua dor em versos... Seu canto noturno e lépido: Guarda uma noite maior – a poesia. Em balada no ritmo frio e silencioso: Na melancolia do sem saída... Nesta noite imensa e fria Com o céu pleno de nuvens Alguma luz risca a amplidão. A noite é cálida e silenciosa Faz o poeta meditar... Desfia seus cantos olhando o céu. Amanhã o veremos soturno. Agora está grave e macambúzio. Cabisbaixo sonha não o amanhã: Mas o sem saída da condição. A poesia é seu refúgio... A noite prossegue plena de poesia...

partilhar o mundo

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Sem a pressão do mundo sermos só nós dois caminhando neste pôr-do-sol com água morna nos pés e a areia envolvente Não há problemas, não há gente Somente o som calmante do vento, nas filas de casuarinas Você me dá a sua mão a vida se torna arte e o mundo faz sentido enquanto caminhamos unidos contemplando o azul A voz do mar, que tanto diz sem precisar falar esse discurso precioso que minha alma reverencia em profundo silêncio A brisa leve que balança seu chapéu de praia o charme desse vestido de flores espalhadas sobre uma grama solta, figurativa conchas de todo desenho, pintadas na areia muitas cores para acentuar a vida

Perspectivas

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         X O homem, o mundo e Deus, num contraponto da visão dos filósofos Jean Paul Sartre e Sören Kierkegaard O que finalmente teria despertado em Kierkegaard (1813-1855) a introspecção característica da atividade filosófica, depois de uma vida burguesa, alegre e hedonista, típica de um jovem de sua aristocracia e época, onde ao modo de um Agostinho em sua juventude, não tinha mais tempo ou disposição para outras atividades que não aquelas que dissessem respeito somente aos prazeres da mesa e às coisas do corpo? Teria sido tocado por um anjo, na expressão usual dos meios eclesiásticos para a definição de epifania? Como em alguns casos onde há o desenrolar de análogo comportamento, metaforizado por vezes na história de forma figurativa, quer seja como  um raio a atingir em cheio o personagem, por uma visão ardente mais próxima da própria morte, uma contemplação de algo místico inominado, ou ainda como resultado tardio de um  amadurecimento já longe da tenra idade