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Ensaios

  Onze Ensaios - Claus Zimerer  (*pdf) Contra o signo binário Racional-Cartesiano do nosso tempo, não apenas nas estéticas possíveis dentro do mundo-machina, mas principalmente na forma como esse pensamento afeta a tudo e todos, ao transformar-se em carne, sangue e sentimentos. Retomada essencial de um gênero que como a poesia também o faz, mas com uma gênese que lhe é própria, flerta com os instrumentos necessários para quebrar esse muro construído com os fantasmas de dois milênios de história. Porque há tempo demais esse cosmos humano é regido pela lógica, e apenas a desversão da nossa própria história promete um olhar capaz de nos trazer para mais perto de nós mesmos. “É inerente à forma do ensaio a sua própria relativização:  ele precisa compor-se de tal modo como se, a todo momento,  pudesse interromper-se. Ele pensa aos solavancos e aos pedaços,  assim como a realidade é descontínua, encontra   sua unidade através de  rupturas e não à medida que as escamoteia. A unanimidade

"Exploradores do abismo" (Vila-Matas)

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"Exploradores do abismo". Beleza de livro. Vila-Matas, mais conhecido pelas narrativas longas, agora enveredando pelos contos em instigante pegada existencial. O exercício de textos com uma perspectiva autointitulada (ou autonegada) "cubista", que insere com muito mais força o local de observação e de experiência do vivente sob parâmetros que se propõem diversos do olhar clássico (por natureza um olhar mais estanque) às vezes claramente identificáveis, às vezes subentendidos,  dentro de referências fluidas cujas chaves caberá ao leitor aceitar ou não, conforme o caso. Tudo isso enquanto uma certa idéia de saúde ou ausência dela permeia os textos, com uma referência explícita à sua origem Kafkiana, criando uma possível linha geral de apreensão da experiência vivida (narrada), ou ao contrário, quem sabe, separando-nos de vez, enquanto leitores, de qualquer "raciocinio universal válido", ao demonstrar que é muito mais plausível que uma realidade não pos

A PARTIDA

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(Dez filmes, dez poemas, série em  homenagem ao cinema. Segundo filme : "O Sétimo Selo" , de Ingmar Bergman. Aquele que sempre considerei o maior cineasta. Este filme, em particular,  é para mim o que há de sagrado e referência maior, não apenas pela sublime arte da filmagem e da técnica que por si sós, em grande parte engendraram o cinema como nós o conhecemos, mas principalmente pelas extremamente corajosas questões existenciais propostas, coisa em que Bergman, por sinal, é ainda um dos maiores mestres. Existência e pranto, no eterno jogo entre o homem e a morte.   A PARTIDA   Peão na quarta casa da Rainha abertura clássica, nascimento Bem-vindo à guerra! Se fores habilidoso um grande jogo te espera e quem sabe em quantos lances perpetuarás tuas próprias chances? Quantos castelos destruirás no afã da maior sede quantos outros entregarás cansado, desesperançoso de escapar à grande rede Aos ousados e pac

A Canção de Alex

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(Dez filmes, dez poemas, série em homenagem ao cinema) AMOR AO CINEMA Dez filmes, dez rabiscos. Poemas em auto desafio propostos para prestar singela homenagem a essa grande arte do cinema por quem sou inteiramente apaixonado, e ao mesmo tempo divulgar bons filmes para quem ainda não conhece. Cinema é a própria vida, e não imaginaria um mundo possível sem ele. Não há spoilers e o critério de escolha dos filmes não obedece nenhum padrão de crítica profissional ou qualquer rigor, apenas gosto pessoal, e é claro, o conteúdo do filme ... que, de alguma forma, me marcou. Em alguns é a beleza, pura e simples, em outros o engajamento,nestes as fabulosas atuações impecáveis e nuns outros não é nada disso, apenas temas existenciais ou até mesmo histórias bobas que de alguma forma são tocantes para além de qualquer razão. Os poemas que me foram inspirados pelos filmes são apenas palavras soltas e despretensiosas ao correr da pena. Espero que gostem. Começando o primeiro aqui, fazendo

O caminho de todas as coisas

Olhar ainda não é ver Escutar ainda não é ouvir Abraçar ainda não é ter Concordar ainda não é sorrir Perdoar ainda não é sentir Aspirar ainda não é querer Engravidar ainda não é parir Esperar ainda não é sofrer Andar ainda não é dançar Nutrir ainda não é comer Falar ainda não é cantar Calar ainda náo é morrer Correr ainda não é voar Embriagar-se ainda não é beber Acudir ainda não é salvar Achar-se é não saber se perder [O que falta ao homem: lembrar-se de que ele é a medida de todas as coisas O que falta ao homem é lembrar-se  de que ele sempre foi a medida de todas as coisas] A ciência ainda não é poesia Adulto ainda não é criança Certeza ainda não é esperança Desejo ainda não é fantasia Religião ainda não é espírito Garras ainda não são mãos O céu ainda não é a Terra Teu corpo ainda não é perdição A verdade ainda não é a guerra A Igreja ainda não é a razão Deus ainda não é homem Desamor ainda não tem perdão Trabalho ainda não é fim Nem mesmo a civ

Festa de Agosto

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No rosto, a chuva Na fuga da tarde Matar aula Cavar tempo Aventura Sem idade Sobre o morro O Espírito Sobre o espírito Velocidade Luzes, Exposição: É a feira da cidade. Gostando dos pingos  Batendo no rosto Os ventos de agosto No alto da colina Na boca, o gosto Os olhos as curvas Presença dos  sonhos Aquela menina Chicletes com música,  Balas de hortelã Pipoca no cinema Drops com adrenalina. Parque- da- festa, de diversões Gente modesta, maçã-do-amor. Meninos pequenos, meninas-com-as-mães Bate-que-bate , meninos-carrossel "Moço, um ingresso!" pra porta do céu Roda que gira, gigante-que-bate Gira-que-bate essa roda de parque Festa do povo, cheiro de pólvora Crianças que rodam Traques-rojões Trem fantasma, trem do terror É festa na cidade do interior. Montanha-russa, algodão-doce Crianças adultas, adultos crianças Ingressos pros sonhos Cavalos girando Fantasias, pipoca, Choro                       E muitas lembran

Réquiem para Hannah Baker

É quando o mundo continua insensível aos teus gritos mudos e tudo o que ouves dele não é mais qualquer consolo somente acusações e sentenças proferidas à queima-roupa como tijolos intransponíveis de um muro sólido e surdo a memória que agora te volta à tona, com  tanta frequência é o frasco de comprimidos ou a água morna da banheira enquanto a lâmina afiada e fria, preparada no ritual aguarda, como num manual, aquela instrução certeira Quando o gatilho armado que, ao lado de  tua cabeça repousa, relegado, antes que o pior aconteça na explosão de matéria rubra a redecorar o quarto na amarga espera para se tornar um retrato quando o desejo maior é cessar todos os desejos aliviar-se para sempre de ser, de ter, pensar ou sentir porque a língua que praticas, a pele que tocaste um dia na frente de um espelho, a razão bela e frágil de existir o corpo-sem-medo que agora habita em ti é objeto em despedida a imaginar outros vôos e a coragem que ora inaug

Ser e existir

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(para o Poeta Pantaneiro) ----------- ... De tudo o que se vê no mundo a metade existe somente na nossa cabeça Os olhos é que mundeiam para enxergar... Isso, porque ainda nem falei de Heidegger para quem, o que existe mesmo são os humanos Alguns autênticos, Outros inautênticos, enfim Como acontece à própria vida O restante das coisas, bichos e plantas ainda que se esforcem , nunca conseguirão os pobres de mundo possuem unicamente sua essência imutável Eles podem ser mas estão condenados a nunca existir Esta minhoca que agora cava sob meus pés redondeando em parafusal espirante um girobolante escarafunchar do barro neste terreiro de chão batido  parece não concordar muito com o Filósofo Assim como estas formigas que, em organizada carreira, carregam apressadamente suas folhas nas costas e seus grãos de açúcar furtados do pote da cozinha (ciência de chuva que se aproxima) Acho que não preciso dizer a elas que He

Existencialismo, psicodelia, critica social e ousadia estética: A História de uma obra-prima.

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Quando se fala de arte, independentemente do terreno de sua expressão, seja no mundo figurativo da escultura, da pintura, ou não figurativo da dança, da escrita ou música, é muito fácil se enrolar ao tentar definir conceitualmente aquilo que é bom ou ruim, o que é certo, errado ou onde estão, ou mesmo se devem existir os tais limites para a criação. Perde-se muito ao tentar racionalizar um discurso que pertence a outro gênero de conhecimento e experiência humanas, porque geralmente essa fala explicativa opera um reducionismo ao usar uma linguagem estranha para "dizer" e tornar palatável aquilo que foi criado dentro de um outro modo de experimentar o mundo. Na falta de critérios absolutos para definição, uma vez que a arte não se curva à mera análise cartesiana da racionalidade, ao mundo hermético dos conceitos que compõem a Filosofia ou mesmo ao quadro de funcionalidades e relações típicas do pensamento científico, o que acaba acontecendo é a imposição de verdades com