As mãos
Não saía à rua sem tatear as grades dos portões pelo caminho Volumes, desenhos e assimetrias das texturas Rachaduras contíguas das paredes em limo e cal Tudo correndo feito Braile na ponta dos dedos Dizia as mãos é que sabem a história das coisas que não precisam explicação, as coisas que são especiais e jamais são cerebrais porque vão direto ao coração Às vezes fazia isso de olhos fechados às vezes não Deslizava as mãos sobre o capim pendulado no campo, sentindo a penugem verde dos brotos e sementes ainda não levados pela brisa Gasturava-se na grama baixa e picante nivelada no jardim recém-cortado Levantava a mão direita no ar (a esquerda segurando as rédeas) em dia de ventania no galope bom do potro malhado Navegava ligeira contra a formação da próxima tempestade ainda a ameaçar As palmas que no vento suavam quando ela viajava pra muito longe, e no caminho ia fazendo anteparas engraçadas à resistência do ar (era como se existisse alguém do outro lado a lh