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Mostrando postagens de março, 2020

Poeta é o que (r)existe

A poesia jamais se cala Nasceu sem ser convidada Do lugar de onde veio a fala De um espaço que -- tornado tempo -- gerou música Celebrada, incensada Proibida, cuspida Ritualizada e marcada no barro Falou com os deuses Habitou oráculos Conjugou as preces Conduziu multidões Esculpida em vida sobre a pedra Testemunhou o auge e a ruína dos reinos do Nilo As incomensuráveis riquezas persas ainda hoje tão corpóreas (o poeta e sua memória) Testemunhou a guerra das guerras Onde deuses e homens disputavam a narrativa de um mundo maior Viveu a decadência de Atenas Foi expulsa da República por Platão [mas não sem antes ele ter se embriagado de Homero Píndaro e Hesíodo Platão que sabia, como ninguém da vocação do verso, do seu poder Sua capacidade de subverter o óbvio, e não se submeter: o destino de  criar o novo E isso sendo a materialização do medo para os que dominam a velha ordem] Vivenciou guerras, massacres O êxtase coletivo dos vencedores A d

Flow Jânio Silva (Jhon Conceito)

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O desafio de um outro olhar quando a estagnação das vistas mortas ameaça tomar conta de tudo A poesia é o que não cede, no fundo

Monte Castelo

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pra lembrar da beleza que há na vida e de como é tudo tão precioso

Borges, poeta (e dos bons!)

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Reunião dos últimos sete livros de poesia do autor, em edição bilíngue. Tradução de Josely Vianna Baptista. Sou suspeito pra falar desse grande autor, um dos primeiros a me atrair para o universo da poesia -- no início mais por sua pegada filosófica que propriamente literária -- e a coisa foi se desenrolando a tal ponto que passei a não saber direito o que era filosofia e onde começava exatamente o literário. Melhor assim. E não por acaso foi de sua autoria a primeira coleção de "obras completas" a povoar minha estante, décadas atrás, antes ainda de Dostoiévski. Deixo a pista desse universo poético na bonita introdução do site Cia das Letras.: -------------------------------------------------------------------------------------------------- "Um persistente equívoco pode levar o leitor de Borges a dar mais valor a seus contos e ensaios do que a seus poemas. Porém, no princípio, no meio e no fim de sua carreira, ele foi sobretudo poeta e assim se julgava. Dur

A inconstante vida dos Filmes e das séries biográficas: erros e acertos

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Ok, logo de cara esse aqui eu acho que todo mundo já sabia (menos eu, que não andei acompanhando o marketing, mas esperava outra coisa pra dizer a verdade), que a série não é nem se propõe a ser biográfica. Tem um traço daqui e de lá, pra não dizer que o protagonista é só um homônimo, mas as semelhanças são bem superficiais com o famoso original, tática usada muito mais para dar corpo ao personagem do que retratar um pensador histórico. É simplesmente uma adaptação inteiramente livre sobre um Freud ficcional lidando, como uma espécie de Sherlock médico, na solução de crimes na Áustria/Hungria/Alemanha do início do século passado. Boa como série thriller, ainda não assisti tudo, mas de cara dá pra ver que tem qualidades como Ella Rumpf no papel de Salomé (que infelizmente também não tem nada a ver com aquela Salomé, que todos conhecem). Seja como for, vale a pipoca. Depois da última tentativa de ver Freud no cinema, (bem ruinzinha, por sinal, no filme "A Tabacaria - 2018" que

Urubus em espirais

De costas no jardim O ar de abril se abrindo para o mês mais bonito quando felizmente lá se foi (tarde) o verão Olhos parados no céu limpo A brisa que vem mais fresca às narinas Um doce azul de gastar as vistas Mais de hora observando esses urubus em finais de tarde Nas espirais contínuas Nadando pelas correntes térmicas Calculados ângulos De por si, seriam já coisa pra esquecimento Uns simples passarinhos atribulados em busca de alimento Mas me vêm à memória os outros urubus o Condor de Castro Alves o beque de Rubem Alves o Urubuquaquá, do JGR O Urubu-Mestre do Jobim O Urubru-Cruzeiro do Seu Antônio Seu sentido fora-do-tempo fica em mim como alento enquanto também flutuo em geométricas espirais

Cinema no bunker - conhecendo novos e revendo antigos

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Eros em tempos de Tânatos

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Um passeio pelo ocidente, conduzido por Eros, da antiguidade clássica ao contemporâneo. Que beleza de seleção do José Paulo Paes, e que ensaio magnífico de abertura : "Erotismo e poesia: dos gregos aos surrealistas". Cia das Letras, 2006

Tudo e mais um pouco

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Eliane Brum 25-03-2020 - El País -  (Os vírus somos nós) "(...) Mas, não se iludam. Assim que a pandemia passar, o Mercado voltará com todo o seu poder de oráculo para, por meio de suas sacerdotisas, os economistas neoliberais ou ultraliberais, nos ditar tudo o que temos que fazer para sair da recessão. Este ônus, como sempre, será dividido igualmente entre os mais pobres. O vírus —e não as péssimas escolhas— será o culpado de todas as mazelas. Até o corona, como sabemos, a economia do mundo capitalista e do Brasil de Paulo Guedes estava uma maravilha, parece até que domésticas estavam planejando uma excursão para a Disney quando foram impedidas pelo maldito vírus com nome de ducha. E, claro, o maníaco do Planalto vai dizer que não é nem ele nem seu Posto Ipiranga os incompetentes, mas “a histeria” com a “gripezinha”. Nada está dado, porém. Não é só o futuro que está em disputa, mas o presente. Isoladas em casa, as pessoas passaram a fazer o que não faziam antes: enxerg

A esperança contra a barbárie

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MST dissolvendo preconceitos  (Revista Forum) Uma outra maneira de lidar com a terra  (El Pais) A terra como fonte de vida  (Conversaafiada)

Leituras

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Serviço: "Depois que o sol se põe", Romance Secult/Funcultura  - Ed. Cousa-Patuá, 2019 preço: R$ 40,00 Link vendas "online" Ed Cousa https://cousa.minestore.com.br/produtos/depois-que-o-sol-se-poe “Depois que o sol se põe” Segundo romance de Danyel Sueth, “Depois que o sol se põe” segue caminho bem diferente do primeiro, “Os Dalmarco”, em vários sentidos. Talvez o mais marcante esteja na percepção de que, enquanto o livro de estréia constrói uma narrativa ora cinematográfica, pela referência predominantemente visual do espaço da ação, ora teatral  pelo desenrolar mesmo da própria ação em sua dinâmica de conduzir falas e personagens valorizando nesse processo muito mais os diálogos que as extensas elaborações argumentativas tão comuns ao gênero, “Depois que o sol se põe” navega por outro caminho, abandonando o ambiente típico de um filme de ação, a imagem trazida pelos "Dalmarco", para abraçar a solidão existencial de uma vida que se coloca em ret

Os Irredutíveis Gauleses

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Albert Uderzo (1927-2020), que desenhou a dupla infalível para ilustrar as histórias incríveis de René Goscinny (1926-1977), uma das maiores criações do universo comics Asterix Obelix Ideiafix Vercingetórix Abracurcix Julius Caesar Panoramix e um caldeirão de poção mágica pra gente tocar a vida

Saneando o insano

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Pandemia anomia um vírus essa coisa nem bem couro nem osso nem carne nem planta cristal de centelha anárquica torrando todas as certezas conspurcando os veios da máquina pra libertar alteridades do calabouço impondo a contrassenso o que seria tao natural mas soa hoje  maldição a presença doce ou amarga do outro e suas desgraças sua poesia trazendo à baila as mesmas velhas verdades sempre tão veladas à luz do dia impondo ainda o desgosto como senso crítico resultado da percepção desvelada súbito de um tão insuportável presente no planeta porque simplesmente  de uma hora pra outra por um fato fora do prumo afiado feito lâmina obtuso como soco se põe olhos sobre  um não-futuro que a rigor nunca houve afinal somos-para-a-morte no fim e todo futuro uma especulação  matemática sem lógica a ciência que por tantas vezes tropeça a fé que às vezes alenta mas não resolve a arte que se desespera mas como sobrevivente ativa num campo de batalha não deixa de plantar sua muda no solo árido das p

Graciliano

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Da série: leituras ainda que tardias A potente lucidez a elegância do texto a surpreendente atualidade após 80 anos a nos revelar o quanto não nos resolvemos enquanto país esse pulso que vem do sertão a voz insurgente, irresignada solitária e tão forte contra uma outra doença um outro tipo de vírus muito mais lesivo

Poesia, poesia, poesia

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Como sabem os poetas, dançar na beira do abismo é o que mais inspira o verso, e no pulso, vida e morte são muito mais irmãos do que se pensa. Beleza de edição, belo nome pra uma editora "Demônio Negro" , que é poema até no nome.

O mundo começa na China

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Coisa linda esse livro, a poesia tem sempre as picadas de eterno dentro mesmo da matéria

Quatro distopias geniais

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A última partida

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Bengt Ekerot e Max Von Sydow (1929-2020) ("O Sétimo Selo", 1956. Ingmar Bergman) ---- Max tudo o mais é cenário que apenas aos olhos do público apetece (No fim, a morte sempre perde) Vai-se a vida A arte permanece

O garoto

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Duduzinho  ainda tão pequeno colega de escola do meu filho tempos atrás Agitado, barulhento, comunicativo e precoce Nada bastou para que a escola o acolhesse As crianças o adoravam, os mestres nem tanto As senhoras da cantina o elegeram protegido Com os chefes de disciplina era à base do castigo Como por encanto, Dudu via curvas naquelas tantas retas postas no quadro Dudu via passarinhos na janela ao lado enquanto a professora geometrizava sua razões Desenhava heróis e monstros no caderno e brincava quando o horário de ser sério estava em sala Suas notas,  -- já uma tradição --, não animavam alguém a arriscar um palpite sobre qualquer futuro Gostava mais, a única coisa que o salvava nas notas era da professora de redação e do espaço da escrita Lá era onde a liberdade existia e a imaginação corria solta Seus bichos viravam gente, suas plantas conversavam Dudu gritava e vibrava muito quando fazia gol Xingava nomes feios e ficava puto quando perdia O esporte pre

Café

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-------------- (Para Ariano ) I. Toca mais à frente, que nosso lugar ainda não é aqui -- ele disse -- e do Alto Calçado chegou: pouca herança, o braço forte pés pisando duro, peito cheio de esperança e um  sentido seguro para os negócios Vinha assim o velho, e subia a montanha com olhos de amanhã, nas mãos o menino baixando a meio caminho a  visão sobre o vale a saudade e o sumo do que deixou para trás´ "quero é mais: terra nova, vento frio batendo no rosto" "Verde, tudo verdim, rio não longe, mina d'agua eeeh, ôoooa boi! quase tudo a meu gosto!!" o altiplano bom para o cultivo da planta a junta de malhados ralando casco na pedra a mulher de lenço branco na cabeça Serenou-se feliz no território da Água Limpa --  um quadro em sépia na sala junto aos santos -- o espaldar dos filhos penteados e enfileirados como o olhar pedagógico do pai na cadeira em volta, as madeiras de lei, o solar e o terreiro Gaiolas e mais gaiolas d